A despeito da catástrofe iminente, há que se manter o bom humor. Crônica do Tutty Vasques:
Já fui botafoguense, eu sei!
A mega-economista Elena Landau é a principal suspeita de ter atirado bonecas em campo durante um treino do Botafogo. A polícia carioca desconfia também de outro torcedor roxo do clube, o documentarista João Moreira Salles, mas aí já é questão de hábito.
O caso, evidentemente, não é de polícia. Merece, isso sim, um singelo registro na crônica esportiva pela peculiaridade avinegra do protesto: como sempre acontece quando o time vai muito mal, a torcida do Botafogo voltou a dar show nas arquibancadas. A chuva de bonecas – foram mais de 50 – que caiu sobre o treino em Caio Martins vai ficar para a história do clube como aquela gloriosa tarde dos anos 80 em que uma muleta decolou da multidão, sobrevoou o alambrado e aterrizou no gramado com o jogo em andamento.
Entre uma manifestação e outra, o Botafogo andou ganhando algumas competições, o que lhe rendeu baixas importantes na torcida. Não é o caso de Elena Landau e João Moreira Salles, mal-acostumados a uma vida vitoriosa, mas muitos alvinegros de carteirinha acostumaram-se às derrotas de tal forma que passaram a delas depender para melhor se expressar nos estádios. Nenhuma outra torcida é tão criativa na adversidade.
A do Flamengo grita “timinho”, a do Fluminense fica de costas para o campo, a do Vasco pede Edmundo, mas só a do Botafogo trabalha com símbolos tão humilhantes na dialética do velho esporte bretão quanto bonecas e pernas-de-pau.
Durante anos fiquei pensando: como será que aquela muleta atirada em campo chegou ao estádio? Teria sido comprada especialmente para a ocasião ou, com a mesma intenção premeditada, roubada da sogra flamenguista? Custo a crer, embora não seja totalmente improvável, que aquilo tenha sido obra de algum botafoguense coxo.
Difícil imaginar, também, que Elena Landau tenha se desfeito da sua coleção de barbies no treino de segunda-feira, 4 de novembro. Quem conhece a economista mais intimamente sabe que ela não dorme sem suas bonecas de estimação.
Isso é que é lindo na torcida botafoguense: as pessoas pagam do próprio bolso para garantir o espetáculo negado dentro de campo. Compram muletas, bonecas, milho, tudo aquilo, enfim, que arremessado ao gramado rouba a cena do mau futebol. Pode parecer patético, mas nem tanto quanto a torcida tricolor cantando “A bênção João de Deus” nos momentos mais dramáticos do Fluminense.
Tenho pensado seriamente em voltar a ser botafoguense. A hora é essa!
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